Nesta semana, o programa Fantástico conversou com pessoas assexuais, e elas explicaram o que é esta orientação. Confira estas histórias, e saiba como é a rotina destas pessoas:
Mais de dez anos de casamento e algo já não ia bem. “Eu achava que eu estava com algum problema, talvez hormonal, talvez algum outro problema porque eu não queria mais fazer sexo”, conta a designer gráfica Lórien Rezende.
Fantástico: Você não tinha vontade? Nenhum tipo de atração, pelo seu marido, nada?
Lórien: Não, não sentia vontade, nem pelo marido nem por ninguém. Eu não queria fazer sexo.
Só depois de muita terapia, de muita procura e sofrimento, Lórien finalmente descobriu a dela: “Bom, eu sou assexual estrita, que é a pessoa que nunca sente atração sexual”.
Assexual. A palavra viralizou na internet esta semana depois que Victor Hugo, um dos brothers do BBB20, também se definiu assim.
Lorien diz que algumas amigas a procuraram depois da declaração do brother dizendo que finalmente se identificavam com ela.
“As pessoas chamam isso de representatividade. E elas vendo uma figura na televisão elas se sentem representadas. E aí elas começam a cair a ficha de que olha, eu sou assim, eu sinto isso”, conta o marido de Lórien, Hellington Júnior.
E desde que Lórien entendeu o que sentia e como sentia, o casamento com Júnior teve de se arrumar.
Lórien: Olha, a gente faz quase tudo junto. A gente toma café junto, almoça e janta.
Júnior: A gente toma banho junto, a gente dorme junto. A gente faz muita coisa junto. O fato dela ser assexual e eu não, não impede a gente de estar pelado na cama, por exemplo, trocando carícias.
Lórien: A gente aprendeu a dormir de conchinha, né?
Júnior: Eu não gostava, eu odiava dormir agarrado. E, com o tempo, isso foi melhorando.
A compilação de duas pesquisas feitas pela USP em um intervalo de 10 anos sobre o comportamento sexual do brasileiro concluiu que de cada 100 mulheres, oito não fazem sexo e não sofrem por isso. No caso dos homens, de cada 100, três não fazem sexo e não sofrem por isso. Para a coordenadora das pesquisas, trata-se claramente de assexualidade.
“Os especialistas hoje vêm considerando a assexualidade uma orientação sexual, assim como a homossexualidade, a heterossexualidade e a bissexualidade. E essa condição significa que a pessoa não tem necessidade de sexo, portanto não faz sexo e não sofre por isso”, explica Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos da sexualidade da USP.
Fantástico: Existe algum problema hormonal detectado ou alguma disfunção biológica que explique?
Carmita Abdo: Não, de forma nenhuma. Essa orientação não pressupõe um problema hormonal.
Também não há diferença na libido. “Tem libido. A libido é a energia vital. É a energia que usamos para todas as nossas atividades. E os assexuais canalizam essa libido para outras atividades. Por exemplo: uma missão, uma profissão, uma busca por alguma posição”, explica Carmita Abdo.
Cobrados pela família e pelos amigos, confrontados pela cultura do desempenho, em que o sexo é quase sempre associado a sucesso e poder, os assexuais durante muito tempo preferiram o silêncio. Não mais. Falar abertamente encurtou o caminho da aceitação.
O Fantástico reuniu cinco jovens que se identificam como assexuais. Existem mais de 20 tipos de assexualidades, em alguns casos pode até haver sexo. Walter Mastelaro teve relações sexuais na adolescência, mas descobriu que é assexual estrito, ou seja, não sente atração por ninguém.
“Eu descobri que sexo realmente não era algo que me interessava. A minha curiosidade ela foi sanada, mas eu descobri que aquilo que todo mundo sentia não era algo que eu sentia”, conta.
Vasti Assis da Silva é demissexual: só tem relações sexuais quando existe algum vínculo afetivo. “Eu sinto peso de não estar, como eles dizem, passando o rodo, sabe? Porque não me interessa, sabe?”.
O mesmo acontece com o gestor estratégico Allysson de Moraes. “Os meus estímulos eles vêm todos do contato corporal. É do beijo, do abraço. Sou muito fetichista. Gente, eu troco nudes”.
Tom Lucena diz que pode sentir atração romântica em circunstâncias específicas. “Eu sei que em algum momento pode acontecer de eu sentir atração romântica por alguém. Porque eu não tenho a minha sexualidade como algo fixo, como algo estanque. Eu entendo a sexualidade como algo que está em constante movimento, não está parada”.
E quer saber o que mais irrita um assexual? Chamar assexual de assexuado. “A gente não se refere a uma pessoa heterossexual como heterossexuado. Não fala para um gay que ele é homossexuado. Então se a gente está falando de orientação, a gente vai se referir à pessoa como assexual e não como assexuado”, afirma Arunã Torres.
Todos acreditam que o antídoto contra o preconceito está neles mesmos. “Assexualidade é somente uma das expressões da sexualidade humana, que são imensas, que são várias. Isso não quer dizer nada”, defende Walter Mastelaro.
“São 7 bilhões de pessoas no mundo. São 7 bilhões de rótulos”, pontua Tom.
Fantástico: O que é ser feliz para um assexual?
Júnior: Bolo.
Fantástico: Bolo? De chocolate?
Lórien: É uma piada, mas sim, eu gosto muito de bolo de chocolate. Bolo é uma piada na comunidade assexual porque a gente fala que a gente prefere comer bolo do que fazer sexo.
“Eu acho que não só comer o bolo como fazer o bolo, confeitar o bolo, assim como qualquer outra atividade que seja muito importante, muito gratificante. E existe na vida muita gratificação em várias atividades, não exclusivamente na atividade sexual”, explica Carmita Abdo.
Com informações de: Fantástico
Comente com Facebook