Rafaela Silva fez história nesta quarta-feira ao se tornar a primeira brasileira a conquistar a medalha de ouro em um Campeonato Mundial de Judô, competindo em casa, no Rio de Janeiro, ao derrotar por ippon a americana Marti Malloy na final da categoria até 57 kg.
O Brasil soma agora três medalhas na competição, uma de cada cor, todas conquistadas por mulheres. A atual campeã olímpica Sarah Menezes levou o bronze na categoria até 48 kg e Érika Miranda ficou com a prata na categoria até 52 kg.
Vice-campeã mundial em Paris-2011, Rafaela deu a volta por cima após a desilusão dos Jogos Olímpicos de Londres-2012, quando foi desclassificada em função de um golpe nas pernas considerado ilegal pela arbitragem. Na época, ela chegou a receber muitas críticas e até ofensas racistas na internet.
“É muito bom mostrar ao pessoal que me criticou, que me mandou procurar outra coisa para fazer. Hoje estou aqui para mostrar que não depende da cor de pele nem do dinheiro, depende da vontade e da garra que você tem”, afirmou a judoca, muito emocionada com a conquista.
Nascida e criada na Cidade de Deus, comunidade carente do Rio de Janeiro, a jovem atleta de 21 anos foi revelada pelo institutuo Reação, do ex-judoca Flávio Canto.
Depois do título inédito, o único que ainda faltava ao judô brasileiro, ela soube manter os pés no chão e se projetou para os Jogos Olímpicos de 2016, onde espera conquistar mais uma medalha de ouro na frente dos seus familiares.
“Ainda nem parei para pensar que sou campeã mundial, ainda menos que estou escrevendo história. Vou continuar treinando duro e se Deus quiser disputar os Jogos Olímpicos aqui na minha casa”, afirmou a judoca de apenas 21 anos.
Rafaela venceu a final com um ippon com menos de um minuto de luta, aproveitando uma entrada da americana para encaixar um lindo contra-golpe.
Num primeiro momento, o árbitro considerou o golpe como wazari. Quando as atletas levantaram para reiniciar o combate, porém, ele acabou confirmando o ippon e a primeira medalha de ouro em mundiais para uma atleta brasileira, o que levou o público do Maracanãzinho ao delírio.
Quando soube que tinha vencido a luta, a Rafaela caiu de joelhos no tatame, levando até bronca do árbitro, que pediu para ela levantar.
“Na hora que o golpe entrou, não vi como a adversária caiu então continuei a luta. O árbitro mandou parar e quando olhei para a mesa, vi que o juiz central tinha apontado que era ippon. Naquele momento, foi só felicidade”, descreveu.
Uma vez em pé, de frente para a adversária, a brasileira, viu o árbitro confirmar o resultado e enfim pôde levar os braços para o ar antes de abraçar o coordenador técnico da seleção, Ney Wilson.
Rafaela não conteve as lágrimas quando deixou o tatame ovacionada. Ela contou até com uma ‘torcida organizada’ de amigos e familiares usando camisas com a menção: “Keep calm (fique calmo, em inglês), hoje tem Rafaela Silva”.
Poucos minutos depois, no lugar mais alto do pódio, a jovem carioca chorou de novo ao receber a medalha das mãos de João Derly, bicampeão mundial em 2005 e 2007.
A vitória sobre Malloy ainda teve um gostinho de vingança, já que a americana havia eliminado a brasileira Ketleyn Quadros na segunda luta da categoria, na sessão matinal.
Rafaela começou sua campanha com vitória sobre a americana Hana Carmichael, e levou vantagem ao aplicar um yuko logo no primeiro minuto de luta.
A americana teve que ser atendida por causa de um sangramento no pé e depois ficou apenas na defensiva, levando três punições. No final da luta, Rafaela conseguiu mais um yuko, garantindo a vitória.
Sua segunda adversária foi a romena Lorena Ohai, que deu bastante trabalho. A brasileira chegou até a ficar em desvantagem, levando um yuko, mas conseguiu uma virada incrível com um wazari a poucos segundos do fim.
A luta das quartas de final foi a mais fácil. Diante de Nora Gjakova, do Kosovo, Rafaela partiu para cima, incentivada pelos gritos da torcida, e aplicou um ippon sensacional com apenas 1 minuto e 23 segundos de luta.
Nas semifinais, derrubou com um wazari ninguém menos que a francesa Automne Pavia, número um do ranking mundial e medalhista de bronze em Londres-2012, que desta vez acabou ficando fora do pódio, perdendo para a alemã Miryam Roper na disputa pelo terceiro lugar. O outro bronze foi para a eslovena Vlora Bedeti.
No masculino, o ouro da categoria até 73 kg foi para Shogei Ono, do Japão, que soma seu terceiro título na competição, levando todas as medalhas de ouro disputadas até agora no masculino.
O francês Ugo Legrand levou a prata e as medalhas de bronze foram para o holandês Dex Elmont e o belga Dirk Van Tichelt.
Na mesma categoria, o brasileiro Bruno Mendonça foi eliminado na sua terceira luta pelo bielorrusso Aliaksei Ramanchyk.
Por: Uol
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