O vigilante brasileiro Dailton Gonçalves Ferreira, de 45 anos, confessou ter matado a mulher, a médica cubana Laidys Sosa Ulloa Gonçalves, de 37 anos, com dez golpes de chave de fenda, após escutar “vozes” que diziam para ele levar o corpo dela a um “sacrifício” num “castelo de pedras” no ABC paulista. O homem alegou à Polícia Civil que ela o estava pressionando e lhe deu remédios que o fizeram mal.
As declarações acima, aparentemente sem sentido, foram dadas por Dailton, na tarde do último domingo (3), quando foi preso em flagrante pela Polícia Militar (PM). O crime havia sido cometido na madrugada do mesmo dia na residência do casal, na Rua Francisco Inhesta Spinosa, no Jardim Olinda, em Mauá.
Os próprios parentes de Dailton avisaram a PM sobre o assassinato cometido por ele após verem o corpo de Laidys no banco do carro do vigia, um Volkswagen Fox vermelho.
O veículo foi abordado por policiais militares na Estrada dos Fernandes, em Ribeirão Pires, na região metropolitana de São Paulo. Segundo os agentes, o vigilante não ofereceu resistência e contou que tinha matado a mulher, indicando, inclusive, o local onde enterrou o cadáver: uma área de mata, ali perto.
Levado à delegacia, Dailton foi indiciado por homicídio qualificado, com agravante de feminicídio (assassinato cometido contra mulher pela condição do gênero feminino) e ocultação de cadáver.
O caso foi registrado no 1º Distrito Policial (DP) de Mauá, mas será investigado pelo 3º DP da cidade.
Segundo o boletim de ocorrência, Dailton foi interrogado pela Polícia Civil, na presença de seu advogado, e alegou que Laidys, que era médica, “estava alterada, ansiosa” e deu a ele um “remédio” para tomar, que não se recorda o nome, porque estava com “vermes”. A partir do momento em que começou a tomar tais remédios passou a não se sentir bem, tendo ouvido vozes que lhe indicavam caminhos a serem seguidos— informa trecho do registro policial sobre o que o vigilante contou na delegacia
Ainda segundo o relato de Dailton à polícia, ele disse que “golpeou mais de dez vezes sua esposa, que estava acordada, com uma chave de fenda”.
Após notar que ela morreu, “colocou o corpo no carro e saiu, passando a seguir caminhos que as vozes lhe indicavam até que chegasse num castelo de pedras, o qual não encontrou”.
Depois disso voltou para casa, em Mauá, onde encontrou uma de suas irmãs, que viu a nora morta no automóvel. Em seu depoimento à polícia, ela contou que Dailton “entrou em desespero” e “dizia que matou sua esposa, mas aquilo não era pecado, pois era um sacrifício necessário”.
Após isso, o irmão saiu novamente com o carro e o corpo da mulher dentro dele. A irmã e outros parentes acionaram a polícia, que depois deteve o vigilante e encontrou a vítima enterrada em Ribeirão Pires. Cometeu o crime de forma impulsiva, pois sua esposa andava muito nervosa, pressionando-o, fazendo com o que o crime se tornasse uma forma de escape de toda aquela situação— informa registro da Polícia Civil atribuído ao que Dailton falou
“Informa que vozes lhe diziam que ela [a mulher] iria embora, mas aduz que isso não lhe sugestionou que seria com outro homem”, continua outro trecho do boletim de ocorrência atribuído ao que o vigilante falou.
Segundo a corporação, policiais tinham dito que ouviram de testemunhas que o vigilante matou a médica após uma discussão. Essa informação, no entanto, não está no registro policial feito no 1º DP .
Na residência do casal, foi apreendida a chave de fenda usada no crime.
Dailton contou que se casou com Laidys havia dois anos. Ele nasceu em Itaetê, na Bahia. Ela, em Rancho Boyeres, uma cidade próxima a capital cubana Havana.
Programa Mais Médicos
Segundo a PM, a vítima integrava o Programa Mais Médicos do governo federal, que trouxe profissionais da área de Saúde de Cuba para trabalhar no Brasil.
O filho do casal, um menino, estava na casa no momento do crime. Não há informações, no entanto, se ele presenciou o assassinato da mãe e nem sua idade. A reportagem não conseguiu localizar familiares da vítima e nem advogados do vigia para comentarem o assunto.
O caso repercutiu nas redes sociais do casal. Na página de Laidys no Facebook, parentes, amigos e pessoas que nem a conheciam postavam mensagens de apoio à família da vítima e pediam justiça para punir o marido dela. Na de Dailton, uma pessoa o chamou de “assassino.”
Tanto a médica quanto o vigilante mantinham a mesma foto nas páginas deles: a do casal abraçado e sorrindo após formalizarem a união em 2016. Ele de terno, ela com vestido de noiva.
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