Jornalista teve duas semanas para se preparar para a chegada do filho.
Já psicóloga descobriu tardiamente a gestação dos dois filhos.
O sonho de ser mãe faz com que muitas mulheres se preparem psicologicamente para a chegada da maternidade. Por nove meses, a ansiedade do nascimento, a imaginação do rostinho do bebê vão criando laços afetivos importantes para a futura relação entre mãe e filho. Mas a gravidez não acontece para todas as mulheres de forma planejada. Algumas, como a jornalista Ana Carolina Moro Oliveira, de Mogi das Cruzes, Região Metropolitana de São Paulo, só descobrem que estão grávidas quase na hora do parto.
A gravidez pegou a jornalista de 24 anos de surpresa no começo de 2012. Ana Carolina descobriu a gestação com oito meses e meio. “Eu não estava pensando em ser mãe. Aliás nunca tive esse sonho. Quando fiquei sabendo foi um choque. Como não tinha jeito assumi a responsabilidade e arquei com as consequências. Em duas semanas corri para me preparar. Meu amigos me ajudaram muito, principalmente, com o enxoval e a parte financeira.”
Essa será a primeira comemoração de Dia das Mães de Ana Carolina com o filho Miguel de 10 meses. “Nunca parei para pensar no emocional disso tudo. Sempre fui bastante racional e acho que nunca vou me acostumar com a maternidade”.
A jornalista engordou em toda gestação apenas três quilos. Ana Carolina não sentia nenhuma diferença no corpo e nem na menstruação. Além de fazer bastante academia para perder o quilinhos a mais que apareceram de um dia para o outro, a alimentação da jornalista também não era tão apropriada para mulheres grávidas. “Eu me alimentava de salada e cerveja. Sempre fui da noite. Saía muito. Descobri a gravidez após sentir uma dor muito forte nas costas.”
As constantes dores nas costas e no estômago fizeram com que Ana Carolina buscasse ajuda de um médico. Ao chegar no hospital, a jornalista foi encaminhada para um raio-X, que detectou a gravidez.
Os médicos então fizeram um ultrassom e descobriram que a gestação estava avançada. “As dores eram por conta do estado avançado. Meu corpo já estava se preparando para dar à luz. Além do susto fiquei aliviada em descobrir que as dores não eram uma doença grave”, afirma Ana Carolina.
No período inicial os sintomas da gravidez podem não parecer, segundo o ginecologista Maurício Costa Nunes Ligabô Junior. “As mulheres podem estar ocupadas com suas atividades e os sintomas serem leves e confundidos com uma patologia. Podem ocorrer alguns sangramentos iniciais de implantação do embrião, descolamentos de placenta e até mesmo de colo uterino que são confundidos com a menstruação.”
Em algumas gestações, o crescimento uterino é menor, entre outros fatores, por causa de alterações de crescimento fetal. Segundo o médico, a demora no crescimento da barriga às vezes dificulta a percepção, principalmente em mulheres acima do peso. “A descoberta da gravidez tardia é rara, pois o principal sintoma de percepção gestacional é a movimentação fetal, que começa na segunda parte da gestação. Além disso, tem o atraso menstrual de longa data, o aumento da barriga, dificuldade de posições e até mesmo contrações uterinas similares com cólicas”, explica Ligabô.
Pela segunda vez
Hoje, a psicóloga Taiana Landre Godinho, de 27 anos, é mãe de uma menina de 9 anos e de um menino de 2. Apesar de sonhar com o momento e adorar crianças, a psicóloga, desde a primeira vez que ficou grávida, só percebeu a gestação quase no final.
Do último filho a descoberta só veio aos sete meses de gravidez. “As duas vezes que engravidei menstruei. Na última, ainda usava a injeção trimestral como método contraceptivo. Depois tive um aumento de peso e irritabilidade que relacionava ao remédio. Minha barriga também quase não cresceu. É complicado preparar o emocional para maternidade em pouco tempo. Tanto a primeira quanto a segunda foram bagunçadas”.
Na época que descobriu a gravidez do filho Davi, Taiana diz que seguia uma rotina bastante desregrada com uma alimentação à base de lanches e dietas malucas. Fora isso, a falta de dinheiro e os problemas de saúde da sogra retardaram ainda mais a descoberta. “Devido à correria não conseguia me alimentar corretamente ou dormir direito. A parte emocional também estava muito abalada, por isso nem passava pela minha cabeça uma gestação”.
Diante disso, a psicóloga só foi notar os pequenos sinais quando a barriga mexeu. “Estava extremamente preocupada em fazer o ultrassom. Por isso, ia retardando o exame. Quando a barriga mexeu cai em mim. Relutei muito em descobrir por conta do medo e da culpa de ter prejudicado o bebê com alguma coisa. Foi difícil me preparar”.
Em dois meses, Taiana teve que arrumar o enxoval, o quarto e se adaptar para a responsabilidade da maternidade. “No momento em que você fica sabendo, não cai a ficha que você vai ser mãe. Depois vem a culpa. Você reluta um pouco, gera um estranhamento e uma sensação de que vocês não vão se adaptar. Mas, três dias depois, você assume esse papel e ai é aquele amor incondicional.”
Após o nascimento de Davi, a psicóloga descobriu que o filho havia nascido com uma cardiopatia. “Isso aumentou minha culpa. Hoje tento ser forte para superar. Os médicos disseram que pode ter sido um efeito do anticoncepcional que continuei aplicando até descobrir a gestação ou a falta mesmo de pré-natal”, lamenta.
Logo que nasceu, Davi passou por uma cirurgia e agora espera para realizar uma outra. “Fico pensando se poderia ter feito tudo diferente e prestado mais atenção. Quando o Davi nasceu tive uma pequena depressão. Veio a culpa de ter feito ele passar por isso ”, conta Taiana.
Além de Taiana, sua mãe também passou por isso na gravidez do último filho. Ela só descobriu a gravidez do irmão mais novo ao sete meses de gestação. “Logo que minha mãe ficou sabendo, meu irmão nasceu. Ele veio prematuro, de oito meses. Foi um susto em casa”, lembra.
Relação mãe e filho
Na tentativa de negar ou esconder uma gravidez, algumas mulheres não percebem os primeiros sinais da chegada de um bebê. De acordo com o psicólogo Gabriel Tarragô, fatores psicológicos influenciam em diversos aspectos no funcionamento do nosso organismo. “A percepção da gravidez pode estar associada a aspectos emocionais, estresse e ansiedade. É preciso levar em conta particularidades do histórico de vida de cada gestante”.
Riscos
Segundo o ginelcologista Ligabô, o grande prejuízo da descoberta no período final é não afastar patologias maternas e fetais que podem prejudicar a evolução da gravidez e o nascimento. “A falta de acompanhamento pode levar à doenças não diagnosticadas, parto prematuro, doenças infecciosas, psiquiátricas e psicológicas.” O emocional também pode afetar essa mãe quando ela descobre a gravidez repentinamente. “Muitas mulheres não aceitam a gravidez e assim procuram assistência médica tardiamente. Preocupações sobre o bem estar do bebê e as condições em relação ao parto e aos cuidados após o nascimento dessa criança podem até gerar quadros graves de depressão”.
Ao não perceber a gravidez, muitas mulheres desenvolvem, após a descoberta, sentimentos como culpa ou vergonha. Para o psicólogo isso pode levar no futuro a uma menor motivação para educar o filho. “Ser mãe é algo que requer aprendizagem. Ninguém nasce sabendo. É preciso desenvolver aspectos para cumprir esse papel. Planejar e desejar a maternidade é importante, mas não o único fator para ser uma ótima mãe.”
Contudo para Tarragô, a falta de um contato mais íntimo com o filho em boa parte da gestação não necessariamente prejudicaria a relação entre mãe e filho. “Muitos aspectos determinam a qualidade de uma relação parental senão pais e mães adotivos jamais seriam felizes nas relações com seus filhos apenas por não terem vivido a fase da gestação biológica. Quanto à superproteção vários outros fatores podem ser determinantes para isso, não apenas sentimentos de culpa por um baixo investimento emocional na gestação”, explica.
Riscos
Segundo o ginelcologista Ligabô, o grande prejuízo da descoberta no período final é não afastar patologias maternas e fetais que podem prejudicar a evolução da gravidez e o nascimento. “A falta de acompanhamento pode levar à doenças não diagnosticadas, parto prematuro, doenças infecciosas, psiquiátricas e psicológicas.” O emocional também pode afetar essa mãe quando ela descobre a gravidez repentinamente. “Muitas mulheres não aceitam a gravidez e assim procuram assistência médica tardiamente. Preocupações sobre o bem estar do bebê e as condições em relação ao parto e aos cuidados após o nascimento dessa criança podem até gerar quadros graves de depressão”.
G1
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