A vida em Marte: terrestres serão selecionados para colonizar o planeta vermelho
Se você ainda não pensou na clássica frase “tem maluco pra tudo”, certamente irá pensar assim que acabar de ler este texto e conhecer as peculiaridades da missão. A primeira é que a viagem é sem volta. Os selecionados ficarão em Marte pelo resto de suas vidas. Afinal, a missão é colonizar o planeta vermelho, ou seja, montar os primórdios de uma civilização.
Isso quer dizer que eles irão procriar no novo planeta ou, em outras palavras, que um dia nascerão criancinhas marcianas (quem nasce em Marte é marciano, correto?). Essa civilização inclui uma forma de organização política, econômica e educacional (as criancinhas marcianas precisarão ser educadas).
Mas, calma! Isso é assunto para mais tarde. “Nos primeiros anos, Marte não será um lugar adequado para crianças viverem. As instalações médicas serão limitadas e o grupo é demasiado pequeno. Além disso, a capacidade humana de conceber em gravidade reduzida não é conhecida, e não há pesquisas suficientes sobre se um feto pode crescer normalmente sob essas circunstâncias”, avisa o site do projeto Mars One.
Condições
Além da gravidade excessiva e do frio extremo (o planeta tem temperaturas semelhantes às da Antártida), Marte tem muita poeira, de efeito ainda desconhecido no organismo de seres humanos. Por esses motivos, lá a vida acontecerá dentro de espécies de estações espaciais, de onde eles só poderão sair utilizando roupas especiais, semelhantes às de astronautas.
O primeiro grupo, de quatro pessoas, que desembarcará lá em 2023, viverá num espaço de 50 por 10 metros, que eles mesmos terão que construir. A partir daí, a cada dois anos, um novo grupo será enviado, até completar os 24 totais. Para isso, terão que viajar pelo espaço por sete meses numa nave apertada e sem tomar banho. Você não leu errado, serão mesmo sete meses sem tomar banho.
Dentro da redoma, as condições serão mais adequadas para a sobrevivência, inclusive com estufas onde os astronautas poderão plantar seus próprios alimentos. Durante as horas de trabalho, diz o site, os astronautas estarão ocupados realizando três tarefas principais: construção, manutenção e pesquisa. Mas, como até Deus descansou quando estava fazendo a Terra, com nossos heróis não será diferente.
Além do trabalho, eles também terão tempo para relaxar. E as atividades de lazer serão bem próximas do que fazemos por aqui. Além de ler, jogar, escrever, pintar e exercitar-se no ginásio, também vão poder ver televisão e usar a internet (sim, em Marte vai ter Whats App!). O único problema é que, por causa da distância, os e-mails e mensagens poderão demorar de 3 a 22 minutos para chegar ao seu destino terrestre, e outros 3 a 22 para a resposta chegar de volta a Marte.
Com relação à programação televisiva, eles terão que solicitar os filmes ou noticiários que querem ver com antecedência. Se um astronauta quiser assistir à final do Brasileirão, por exemplo, poderá solicitá-lo, e as imagens serão enviadas para o servidor em Marte. No entanto, haverá sempre um tempo de atraso de pelo menos três minutos, para que as pessoas em Marte saibam quem ganhou o jogo. Não que isso seja problema, pois um engraçadinho não conseguiria estragar a surpresa a tempo (o Whats App leva, no mínimo, três minutos para chegar, lembra?).
Financiamento E já que a Nasa não tem nada a ver com a história, você deve estar se perguntando quem vai financiar essa farra. Resposta: quem quiser. Além da taxa que os candidatos pagam no momento da inscrição, no site www.mars-one.com é possível comprar camisetas, canecas e outros souvenirs com a marca da missão.
Agora já deve ter chegado a parte em que você pensa “tem maluco pra tudo”. E também chegou a parte em que você conhece dois desses “malucos”. Um deles é o jornalista carioca João Carlos Leal, de 52 anos.
“Tinha tido notícia em 2011, mas achei que não iam levar adiante. Aí, em abril deste ano, minha filha me passou o link pelo Facebook e decidi me inscrever”, conta ele, que é casado e tem três filhos, um de 12 anos.
“Minha esposa está odiando. Quando perguntam, ela diz que está dando uma força politicamente correta, porque não quer ser a culpada de eu não realizar o meu sonho. Mas, no fundo, ela está torcendo para dar errado”, ri. Quanto ao filho, João conta que já teve uma conversa séria com o garoto (depois que ele o ajudou a fazer o vídeo para colocar em seu perfil, no site do Mars One). “Expliquei pra ele que quando ele tiver 22 anos terá um pai remoto, mas que até lá darei todo o suporte”, conta.
O outro “maluco” é o estudante e fotógrafo brasiliense Felipe Menezes, de 21 anos. “O pessoal do Mars One consegue mais gente pra ir a Marte sem volta do que a gente consegue estrangeiros pra trabalhar no Brasil. Gente, eu também prefiro”, brinca ele. “Dá aquele medo de não voltar. Não é aquela coisa, ah, vou me mudar para Sampa. Eles perguntam muito negócio de família, se você consegue ficar só. Já morei fora, eu fiz intercâmbio na Disney, trabalhando três meses”, compara.
E como Felipe ainda não tem esposa, quem não está gostando nada da ideia é a mãe do garoto. “Minha mãe já sabe, ela está do jeito dela, está brava lá. Eu nunca me apeguei muito, eu teria que fazer amigos e seria tranquilo e seria de boa”, conclui.
O CORREIO procurou, mas não achou nenhum candidato baiano com a inscrição aceita. Quer ser o primeiro?
Reality show irá decidir quais serão os candidatos selecionados
Dos mais de 100 mil candidatos a marcianos, apenas 24 serão os escolhidos. Para isso, serão realizadas quatro etapas de seleção. Uma delas será uma espécie de Big Brother Marte, na qual haverá uma transmissão via internet e TV para que o público decida quem vai e quem não vai para o espaço. Dessa etapa sairá apenas um candidato por país selecionado, e o público desses países decidirá o próprio representante dentre um grupo de 20 a 40 candidatos por nação.
Até agora, o site do projeto confirma ter recebido inscrições de mais de 120 países, incluindo o Brasil, China, Rússia, México, , Canadá, Colômbia, Argentina e Índia. No entanto, a maior parte – cerca de dois terços – é dos Estados Unidos.
“O Mars One é uma missão representando toda a humanidade e seu verdadeiro espírito será justificado apenas se pessoas de todo o mundo estiverem representadas. Eu me orgulho de ver exatamente isso acontecendo”, disse Lansdorp em artigo publicado no site do Mars One.
Na primeira etapa, a seleção é feita com base no currículo, carta de intenção e vídeo enviado pelo candidato. Nessa etapa, os candidatos ao lado já foram aprovados. Na segunda fase, os candidatos devem apresentar atestado médico e físico e se encontrarão com comitês regionais da missão para entrevistas. Na etapa final, os candidatos restantes, que já foram escolhidos no reality show, participarão de um evento transmitido pela TV em todos os países participantes para selecionar apenas 24 astronautas.
Se você se interessou, ainda dá tempo de participar. O site www.mars-one.com está aceitando inscrições até sábado. Você precisará enviar um vídeo de um minuto, explicando por que deve ser um dos escolhidos e pagar uma taxa que é proporcional ao PIB de cada país. No caso do Brasil, ela custa cerca de US$ 15 (pouco menos de R$ 35).
Depois disso é só aguardar. Se receber, por e-mail, uma mensagem de congratulações, é sinal de que sua candidatura foi aceita. Ou seja, faltarão apenas três etapas para que você possa arrumar suas malas para uma agradável viagem sem volta ao planeta vermelho, daqui a dez anos. Se animou? Então, boa viagem!
Por: Correio
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