Com as recentes detecções de novas cepas da Covid-19 no Brasil, capazes de driblar o sistema imunológico dos infectados, o professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, Domingos Alves, afirma que a vacinação pode ser chave para a prevenção do surgimento de novas variantes.
De acordo com Alves, a imunização induziria a uma proteção coletiva contra o novo coronavírus, diminuindo a possibilidade de criação de novas cepas. Elel afirma: “A vacina propriamente dita não tem como interromper o ciclo de criação de novas cepas. O fato de você ter uma grande parcela da população vacinada, interrompe um ciclo de infecção do coronavírus e diminui a possibilidade desse vírus de criar mutações”.
Ademais, a epidemiologista Maria Rita Donalisio ressalta que as pessoas que já tiveram Covid-19 devem se vacinar. “Muitas vezes uma primeira exposição ao vírus não é suficiente para proteger o indivíduo de uma segunda infecção. Principalmente se for uma variante. Nós não sabemos ainda quanto tempo dura a imunidade; quem já se contaminou, quanto tempo vai durar aquela infecção. São temas que necessitam de estudos”, afirma.
Donalisio aponta que existe a possibilidade da vacina contra o novo coronavírus ter sua aplicação feita de forma anual, como acontece com a Influenza. Dessa forma, a comunidade de saúde se reúne todos os anos a fim de analisar a variante predominante e, assim, definem o melhor imunizante para aplicar na população.
Até a última terça-feira (27), o Brasil já havia distribuído 57.966.218 doses de vacinas contra a Covid-19 aos estados. Dessas, 39.348 já foram aplicadas. O site Localiza SUS disponibiliza os números atualizados.
Reinfecção
De acordo com a epidemiologista, existe a possibilidade de reinfecção para um indivíduo que já se contaminou com o novo coronavírus. Ela explica: “Alguns estudos têm demonstrado que as reinfecções podem ser mais frequentes do que nós suponhamos, até com sintomas mais graves. Porque não foi possível construir uma memória imunológica suficiente, na primeira infecção, para proteger [o indivíduo] de uma segunda infecção”.
O professor Domingos Alves ressalta a possibilidade de reinfecção, entretanto, afirma que a pessoa que receber a imunização não irá desenvolver um quadro grave da doença. “Se você, sem vacina, tem um quadro de reinfecção, ela pode ser mais grave. Você pode ter tido uma primeira infecção, sem sofrer internação, e na segunda sofre até uma internação mais grave. A probabilidade, com a Coronavac, é 100% de chance de não ter um caso grave”, disse.
Ademais, existem poucos dados sobre reinfecção no Brasil. Isso se dá pelo fato de que, para determinar se houve duplo contágio, é preciso realizar um sequenciamento genético do vírus na primeira e na segunda infecção. Assim, deve haver também um espaço de pelo menos três meses entre elas.
Vacinação
As vacinas disponíveis até o momento ainda são capazes de proteger contra as novas cepas da Covid-19. A epidemiologista Maria Rita Donalisio afirma: “Os ensaios clínicos que temos sobre a eficácia das vacinas disponíveis no Brasil mostram que a Coronavac e a AstraZeneca têm eficácia, principalmente, contra casos graves e mortes por Covid-19”.
Alguns estudos com variantes, como a B.1.1.7 (Reino Unido), mostram a eficácia das vacinas testadas, em especial a AstraZeneca. Apesar de haver uma queda na resposta imunológica, a eficácia foi suficiente para evitar casos graves e mortes pelo novo coronavírus.
A resposta foi um pouco menor no caso da cepa da B.1.351 (África do Sul). Entretanto, os pesquisadores afirmaram que os imunizantes ainda são competentes para impedir estágios avançados da doença.
Da mesma forma, alguns estudos com a variante P.1 (Manaus) – apesar de precoces – apontam que o grupo de pessoas que receberam a vacina, tanto a AstraZeneca, quanto a Coronavac, estão protegidos da Covid-19.
No entanto, o professor Domingos Alves ressalta que estes estudos ainda são preliminares. Ele adverte: “Esses estudos precisam ser mais abrangentes. À medida que for se vacinando as pessoas, [deve-se] observar se essas vacinas foram contundentes contra as cepas que estão aparecendo”.
Prevenção
Além da imunização, o epidemiologista Jonas Brant diz que as medidas de prevenção para a Covid-19, incluindo as novas variantes, ainda são as mesmas: uso de máscaras, manter os ambientes ventilados, evitar aglomerações, higienizar as mãos etc. Ademais, ele recomenda que haja o reforço na filtragem das máscaras.
“Nesse momento em que a probabilidade de entrar em contato com pessoas com vírus é cada vez maior, o uso da máscara de pano deve ser substituído pela máscara cirúrgica, por baixo da máscara de pano, ou pela máscara N95 ou PFF2. O uso de filtragens melhores pode garantir maior proteção.”
Conforme a epidemiologista Maria Rita Donalisio, o Brasil é um terreno propício para o surgimento de mutações e novas cepas. “É um terreno fértil: grande circulação de pessoas, pouca testagem, poucas estratégias de prevenção. Com muitos casos [da doença] a gente aumenta a possibilidade desses erros de codificação genética, dando chance para as mutações. O grande risco é o vírus mutante driblar a imunidade do indivíduo”, explica.
Fonte: Da Redação Namidia News com informações de Brasil 61
Comente com Facebook