Médicos estrangeiros devem aprender expressões regionais
Os cinquenta médicos cubanos e 13 de outras nacionalidades que vão atuar pelo programa Mais Médicos na Bahia começaram o curso sobre a saúde pública no Brasil na manhã desta segunda-feira (26), em Salvador. A Bahia é o estado que vai receber o maior número de profissionais estrangeiros nessa primeira etapa do programa.
A aula inaugural foi realizada no auditório do Banco do Brasil, no centro da cidade. De acordo com Washington Abreu, supervisor de Recursos Humanos da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), as aulas de saúde pública têm foco na forma de trabalho dos médicos na atenção básica do Sistema Único de Saúde (SUS).
Durante o evento, o secretário da Educação Superior (Sesu), do Ministério da Educação (Mec), Paulo Speller, brincou com os profissionais estrangeiros sobre a experiência com o novo idioma. “Alguém aqui fala português? Todos vão falar português como bons baianos”, disse.
A partir de terça-feira (27), o curso será realizado na Escola UnaSus, unidade da Secretária da Saúde da Bahia (Sesab), no bairro da Federação. Nas aulas de português, explicou Abreu, os médicos vão aprender como se apresentar e dialogar com os pacientes e com a equipe de trabalho, e também expressões regionais que definam situações, doenças e sintomas.
Para Washington Abreu, os médicos estrangeiros devem superar as difuculdades do idioma com o curso, mas também com a convivência com a população. De acordo com ele, do ponto de vista técnico, não haverá dificuldades porque a atenção básica à saúde tem um padrão mundial.
“O Brasil se preocupou com a adaptação dos termos. Não há muita diferença do ponto de vista técnico para a área. A não ser alguns regionalismos, como, por exemplo, dor de facão. Aqui se fala assim e vamos explicar a eles do que se trata. Todo material usado no curso vai ser disponibilizado para eles, tanto o de português, como o de saúde”, disse Abreu.
O Ministério da Educação (MEC) informou que os regionalismos não estão no foco do curso de português, mas que serão abordados por iniciativa dos professores, variando a depender da situação e da região do país.
Segundo a Sesab, todos os médicos estrangeiros que chegaram ao estado falam português, alguns não tão fluentemente, mas a expectativa é que eles se familiarizem com o idioma com o tempo.
A médica mexicana Rosa Isela Delgado, 31 anos, é uma das profissionais que vão trabalhar na Bahia. Ela vai atuar em Feira de Santana, município que fica a cerca de 100 km de Salvador. Com um português que ainda traz sotaques do espanhol falado na sua terra natal, ela afirma que aprendeu o idoma brasileiro com a irmã, que tem amigos brasileiros. “É um pouquinho difícil [entender o português], a realidade é diferente”, disse.
Perguntada pela reportagem se sabia o que era dor de facão, por exemplo, Rosa estranhou, mas com um gesto feito na barriga logo reconheceu e disse que o problema, em seu país, é chamdo de “dor de cabalo”. “Vou me acostumar a escutar e falar. Quero ajudar. Espero fazer o bem aqui”, disse.
O médico angolano Francisco Manoel Pulgado, naturalizado português, vai trabalhar em Salvador, mas ainda não sabe o bairro. Aos 58 anos, com experiência em medicina familiar em Portugal, a expectativa dele é ajudar a população mais carente na capital baiana.
O idioma para ele não é nenhuma barreira, já que é bastante familiar por ser praticado, embora de maneira diferente, tanto em Angola quanto em Portugal. O sotaque é português, mas é possível entender a sua fala claramente. “Foi a minha escolha porque soube que essa cidade tem muita carência e achei que podia ser prestável na comunidade. A língua é comum, é um trampolim, sinto-me em casa, é como se não tivesse saído. Tem um ligeiro sotaque, mas compreendo bem”, disse.
Pulgado afirmou que o salário não é o principal para ele. “Não é o mais importante, o que me trouxe aqui aqui foi o programa, a possibilidade de ajudar aos brasileiros, depois vem o resto. Aderimos a esse programa para dimunuir as carências [na saúde pública]. Vamos cumprir esse papel. Não nos compete abordagem sobre salário”, completou.
Alguns médicos cubanos evitaram falar com a imprensa. Ivedt Lopez é uma das profissionais de saúde que deixou a ilha caribenha para atuar no Brasil. Médica em clínica geral integral, ela comentou sobre o programa. “É muito positivo para o nosso país termos vindo aqui ajudar aos brasileiros. É uma característica do nosso país a solidariedade. Já trabalhei em outros países na África e na América Latina. O que me trouxe aqui foi a solidariedade com o povo brasileiro”, afirmou.
Os médicos cubanos que estão em Salvador estão abrigados no 19º Batalhão de Caçadores, pertencente ao Exército Brasileiro, que fica no bairro do Cabula. Os demais profissionais estrangeiros estão hospedados em um hotel no Corredor da Vitória, cujo nome não foi divulgado.
Por: G1
Comente com Facebook