A foto da Copa: um dia para não esquecer

Não existe montagem, não mudei a posição do sol, não dei dinheiro a ela. Apenas registrei o que estava acontecendo e, com essa foto, veio uma certa visibilidade. Várias pessoas me mandaram mensagens positivas, como também recebi comentários absurdos. Não quero 15 minutos de fama, quero um Brasil melhor, mais justo e com grandes manifestações pacíficas.

Foto-edimar-soares-copa-das-confederacoes-fortalezaQuarta-feira (19/06/2013), dia de jogo entre Brasil e México e de uma manifestação por um Brasil melhor, nas imediações da Arena Castelão. Minha pauta era acompanhar o percurso do repórter Lucas Catrib como um torcedor comum, observando os pontos positivos e negativos, como mobilidade, segurança e organização do evento, até a sua entrada no estádio. Saímos do Centro de Eventos do Ceará, pegamos um ônibus até a avenida Paulino Rocha e depois terminamos o caminho a pé, junto com os milhares de torcedores rumo à Arena.

Quando cheguei ao Centro de Eventos, tive uma grata surpresa. Encontrei um primo que não via há 16 anos, e uma fila de ônibus quase tão grande quanto o números de pessoas para embarcarem neles. Cumprimentos, abraços e registro fotográfico feito, me despedi e comecei meu trabalho. Não demorou nada e já estávamos dentro de um ônibus. A fila andou bem rápido, fizemos um percurso que eu nunca tinha feito, ruas estreitas de calçamento foram aparecendo na minha frente e perguntei que caminho era esse. Alguém responde, “é para a gente não passar no meio da manifestação”. Nesse instante, me dei conta que meus colegas já estavam em campo. Em campo de batalha, fiquei sabendo depois. Confesso que me deu uma vontade grande de estar lá com eles, em vez de ir para o jogo, uma pauta mais “leve”. Não que eu quisesse que uma bomba de gás estourasse perto de mim ou ser alvo de uma bala de borracha. Muito menos ser atingido por uma pedra ou algo parecido. Gostaria de estar ali por patriotismo e coleguismo. Queria ser testemunha de um ato que era para ser pacífico e quem sabe o começo de grandes mudanças. Mas essa não era a minha pauta, então fiz o que de costume: tentar fazer o melhor trabalho esteja eu onde estiver. Debaixo de um sol escaldante, acompanhamos os torcedores do inicio da avenida até o Castelão. Felizes, sorridentes com seus amigos e famílias, bebendo e comendo, ouvindo músicas de bandinhas de forró, que foram colocadas no corredor que dava acesso ao estádio. Fotografei tudo que achava que podia dar uma boa foto, inclusive o repórter que acabou ganhado um book.

No final do percurso paramos para beber água e limpar o suor. Nesse momento, me deparei com uma mulher dentro de um pequeno container de lixo, todos padronizados e com uma rede e traves montada na parte de cima como se fosse para fazer gol. Com as latas, as garrafas e o resto de comida, ela estava ali dentro separando lixo para reciclagem. Como era um container alto, as pessoas não conseguiam vê-la, a não ser que chegassem bem perto. Ela, no entanto, não estava preocupada com os objetos que caiam do céu. O mais importante era encher os sacos antes que a fiscalização chegasse. Fiquei ali por alguns minutos e flagrei um pouco de tudo sendo jogado. Fiquei esperando ela sair, e com uma facilidade de quem já tinha entrado, ela saiu e jogou o saco cheio de latas e garrafas para fora do corredor verde e amarelo, e foi embora.

Essa imagem foi postada nas redes sociais e ganhou proporções inacreditáveis. Vários sites e blogs publicaram, milhares de pessoas compartilharam. Gerou uma polêmica pela veracidade e força da imagem e também pelo inconformismo de várias pessoas, pela diferença social que assola o nosso País,

Não existe montagem, não mudei a posição do sol, não dei dinheiro a ela. Apenas registrei o que estava acontecendo e, com essa foto, veio uma certa visibilidade. Várias pessoas me mandaram mensagens positivas, como também recebi comentários absurdos. Não quero 15 minutos de fama, quero um Brasil melhor, mais justo e com grandes manifestações pacíficas.

(*) Repórter-fotográfico do jornal O POVO. Estudou fotografia no Senac-GO, participou de exposições coletivas e individuais e fez diversos cursos e workshops em algumas áreas da fotografia.

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